O presente trabalho visa destacar as passagens nas quais o léxico erro aparece em Corpo de Baile, de Guimarães Rosa, compreendendo o vocábulo enquanto escolha intuitiva do autor para construção e tratamento epistemológico dado às trajetórias de seus protagonistas. O trabalho apresenta uma leitura a contrapelo do erro trágico, defendendo que nesse ciclo a percepção de um erro e as questões éticas que dele decorrem, constituem o argumento rosiano de Corpo de Baile. A pesquisa procurou compreender de que forma essa escolha lexical responde à necessidade de protagonistas cujo caráter é menos heroico e mais comum do que se gostaria. Porém, mais do que desfazer na contemporaneidade um conflito outrora trágico, o autor esboça em Corpo de Baile uma narrativa para uma vontade humana mais harmônica com o imponderável. Expressão da incomensurabilidade da vida forjada em Corpo de Baile são as epígrafes plotinianas, que deliberadamente dão a toada do conjunto. O trabalho procura demonstrar como o fundo místico do neoplatonista opera na economia das narrativas, apelando a um senso amoroso ascético. Para tanto, foram comparados cada um dos sete erros acometidos pelos protagonistas do conjunto rosiano à expiação de um pecado capital, como ilustrado por Dante, na Divina Comédia. Por fim, o trabalho procura demonstrar que do sincretismo espiritualista à síntese de correntes filosóficas, reside no bojo do ciclo rosiano um sistema setenário que faz coincidir os protagonistas da primeira e da última narrativa, isto é, a criança Miguilim que retorna como o adulto Miguel.
Palavras-chave: João Guimarães Rosa. Plotino. Divina Comédia.