SINOPSE
PREFÁCIO, por Rogerio Galindo
As melhores coisas da vida
Minha lista de invenções preferidas da humanidade provavelmente começaria assim: democracia, música e chocolate. Claro que tem muitas outras coisas boas de que eu nem cogito abrir mão: livros, penicilina, cinema, computador. Mas cada um tem seus amores: e os meus acho que são esses três.
Como muita gente, na adolescência eu tive minha crise de autoritarismo: cheguei a pensar que só uma elite devia votar (que horror!) e flertei com as ditaduras de esquerda (quem nunca?). Com o tempo, fui lendo, me informando, e principalmente ouvindo. E pensando. E percebi que tudo isso vinha da soberba.
Meus planos políticos para os outros (e aqui me sinto um fiel prestando seu testemunho diante dos irmãos, um convertido) vinham da convicção de que eu sabia o que era melhor para todos. Hoje, como diz a letra da música, não sou mais tão criança a ponto de saber tudo.
Meu chocolate e minha música sei que dificilmente alguém há de tirar. A diferença da democracia (e também sua beleza?) é que ela tem que ser conquistada dia a dia. E não por mim, ou por alguém, mas por todos. Porque se não houver uma maioria que acredite nela, tudo desanda rapidinho.
Uma história que eu acho bem convincente para explicar por que a democracia é importante é aquela do Rei Salomão. Famoso por ser sábio (e rico!) ele recebe duas mulheres que dizem ser mães da mesma criança. Num estratagema, finge que vai cortar a criança ao meio e dar metade para cada uma, só para ver quem é a mulher que grita para impedir: quem fizer isso é a mãe.
Salomão era justo e jamais cortaria de fato a criança ao meio. Mas pense no absurdo: a vida das pessoas dependendo simplesmente da decisão de uma pessoa. Se o sujeito está de mau humor, manda matar, expulsar, banir, espancar. Ou cortar ao meio. E ninguém pode fazer nada.
Qual é o jeito de impedir isso? Regras escritas que valham para todos, a crença de que somos todos iguais, divisão do poder entre pessoas, mandatos temporários, para que as pessoas possam trocar quem não esteja agindo de acordo... Pois ao conjunto dessas coisas todas, conquistadas com o tempo e a duras penas, damos o nome de democracia.
Por um ponto de vista, ser democrata é uma chatice. É preciso admitir que você pode perder. É preciso aprender a ouvir os outros. E, principalmente, você tem que ter uma convicção profunda e sincera de que você pode estar errado.
(Uma outra história: um publicitário americano sempre ia às reuniões com os clientes levando um cartão em que estava escrito: “Escute com calma. Ele pode ter razão”. Várias vezes ele teria mostrado isso a seu funcionário, irritado com o cliente; outras vezes, mostrava ao cliente, que devia prestar atenção ao funcionário; e muitas vezes ele mesmo era visto olhando longamente para seu cartão.)
Como eu não quero que cortem ninguém ao meio, como acho que não tenho a solução para o mundo sozinho, nem acho que ninguém tenha, sou um democrata. E quero converter cada vez mais gente a essa convicção.
A primeira vez que ouvi falar do Daniel Medeiros eu tinha exatos 15 anos. Meu irmão mais velho, o Caetano, estava estudando para o vestibular e voltava toda semana empolgado com o professor de história.
Anos depois, já como jornalista, tive o Daniel como colega. Hoje, tenho a honra de trabalharmos juntos. E entendo perfeitamente o encantamento que meu irmão sentia.
O estereótipo diz que professores de cursinho pré-vestibular só querem saber de decorebas, de macetes. Um deles dizia à minha turma (de 300 alunos!) que estávamos lá só para nos livrarmos do ensino médio e chegar ao que interessava – estereótipos muitas vezes têm sua razão de ser.
Mas o Daniel é uma ave rara. Não está interessado só no imediato, no vestibular, na aprovação. Seus alunos são aprovados aos milhares. Mas o que realmente conta é que ele os trata como seres humanos pensantes, capazes de aprender de fato sobre o mundo e sobre si mesmos (esta última arte é a mais difícil...).
As aulas dele, os artigos, os podcasts, são verdadeiros modelos de reflexão e comedimento, de autocompreensão e solidariedade. De inteligência. Vá lá a palavra pesada: de sabedoria.
E aqui isso tudo vem em dose extra. Este livro é um despertador, uma bússola. É um chamado. Daniel, assim como eu, sabe que o caminho não deve ser ditado por ele nem por ninguém. Mas ao longo da vida viu muito, leu muito, soube muito; e agora sente prazer em dividir isso com você. Sorte a sua, meu amigo.
Aproveite o livro. Aproveita a vida. Aproveita a democracia, a música e os chocolates. E lembre que só quando estamos juntos e em busca de um projeto comum isso tudo faz sentido.
Boa leitura.
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SUMÁRIO
Introdução: a sério
Primeira Parte: sobre a democracia
Lição 1 : a atitude democrática
Lição 2: a convicção democrática
Lição 3: a consciência democrática
Lição 4: os princípios democráticos
Lição 5: as instituições democráticas
Lição 6: os limites democráticos
Segunda Parte: sobre ser democrático
Lição 7: saber ouvir
Lição 8: saber fazer perguntas
Lição 9: a réplica
Lição 10: oponente não é inimigo
Lição 11: como ajudar seu oponente
Lição 12: a resiliência
Lição 13: a busca do consenso
Lição 14: a formação de maioria
Terceira Parte:sobre os perigos que cercam os que buscam ser de-mocráticos
Lição 15: a balança dos interesses
Lição 16: a tentação da manipulação
Lição 17: A violência disfarçada de segurança
Lição 18: o preço da democracia.
Conclusão: Por que querer ser democrático?
Referências
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O AUTOR: DANIEL MEDEIROS
É professor de humanidades, enquanto elas existirem. Colunista e Comentarista da rádio CBN CURITIBA - EDUCAÇÃO E CIDADANIA. Possui graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1991), mestrado em Educação pela Universidade Federal do Paraná (2002) e doutorado em Educação Histórica pela Universidade Federal do Paraná (2005). Professor do Curso Positivo.
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