SINOPSE
O DESAFIO DE PENSAR
por Aroldo Murá G.Haygert
(Jornalista, foi professor de Jornalismo na PUCPR; é autor da coleção de livros 'Vozes do Paraná, retratos de paranaenses'; e também da série 'Memória da Curitiba Urbana', editada pelo IPPUC; criou e dirigiu a extinta revista 'Referência em Planejamento', da Secretaria de Planejamento do Paraná; autor do livro biográfico do ex-governador João Elísio Ferraz de Campos, 'Seu nome é João'; preside o Instituto Ciência e Fé de Curitiba. Escreve coluna diária no Jornal Indústria e Comércio, de Curitiba)
Conheço Wanda Camargo desde quando ela estava no colegial. Mas muitos anos nos separam em idade. No entanto, posso dizer, com absoluta certeza, que nunca deixei de observar o caminhar dessa engenheira que, no tempo próprio, a Universidade chamou a seus quadros, tendo sido ela depois, Chefe do Departamento de Informática da UFPR. Hoje a reencontro na UniBrasil, mais uma prova, com a escolha dela, que o professor Clèmerson Merlin Clève é um educador da melhor cepa.
E mais que dirigente educacional, na universitas desabrochou a educadora que nela sempre existiu, formada na escola da Lógica e da disciplina, no cultivo da ética e comprometimento com sua missão. Isso sem jamais perder o essencial da sensibilidade para tudo que é humano. Esse dado é marca de sabedoria, identidade de seleto universo de "escolhidos". É gente que se distingue da multidão, aí incluída, até, boa parte do mundo universitário em que aparecem mestres e pesquisadores lamentavelmente enredados no mero repetir conhecimentos enciclopédicos.
Esses escolhidos, como escolhida é a educadora Wanda, muitas vezes poderão parecer pregar no deserto. Esse é um risco. No entanto, cumpre até pregar no deserto, jamais calar quando se trata de Educação, sabem Wanda e seus parceiros dessa caminhada.
Dizendo isso, não quero apenas ressaltar em Wanda – cujo filho, meu afilhado, o criativo publicitário Kleber Camargo Menezes , faz carreira há anos em Nova York – suas notáveis faces curriculares. Pois enxergo nela muito mais do que a dona de currículo alentador. Ela tem, isso sim, bem exposta, a dimensão de um ser que pensa a Realidade, o seu entorno, o dia a dia, e o amanhã que se insinua com amplas incertezas as quais pode antecipar, num exercício premonitório.
A mim me impressiona como Wanda raciocina com enorme destreza em torno de seu tema preferido: a Educação. Nesse exercício, coloca à disposição de quem 'tem olhos para ver e ouvidos para ouvir' um texto elegante que vai fluindo, sem preocupação em preencher espaço/tempo, mas trabalhando com maestria a economia da precisão. E da Lógica.
Cada palavra, em Wanda, tem o valor semântico inquestionável, é parte de uma cadeia de revelações e raciocínios que ela coloca a serviço de suas teses.
E mais me impressiona quanto essa paranaense, criada sob a influência das grandes discussões políticas do final dos 1960, e dos debates em torno de temas 'explosivos' e instigantes, como as mensagens de Marshall McLuhann e Edgard Morin – por exemplo -, vai destruindo ídolos entronizados na escola pautada pelas "soluções digitais". Clama no deserto? Acho até que sim, porque a falácia da "pesquisa universitária", em que lixo internético prevalece, é um dos cânceres mais resistentes na vida acadêmica brasileira. Um cancro que já não poupa o Colegial e, às vezes, o Fundamental.
Mas se gente, como ela, se calar as pedras clamarão, como adverte o Evangelho. Mexer com esse tumor com amplas metástases, dificilmente passará de tentativa, lamentavelmente. Para essa patologia que corrói a Educação, hoje, não há solução a vista, pois a teia de lassidão é enorme, quase impossível de extirpar.
E, além disso, há cumplicidade entre a maior parte de mestres e alunos: os primeiros até dão aulas (repetindo programas e manuais) e os alunos fingem ter absorvido conhecimentos, num pobre exercício de “copiar e colar".
Tomo esse olhar – o dos males da web -, dentre tantos outros encontráveis nos ensaios de Wanda Camargo, publicados em veículos como a Gazeta do Povo. E ressalvo: ela não prega a eliminação da Internet na feitura de trabalhos na vida universitária. Apenas diz, com a contundência de quem foi formada em dias melhores da universidade brasileira, que continuar como está não é mais possível. E, com precisão cirúrgica, repete – e repetirá sempre essa máxima: "Aprender a pensar exige tempo e dedicação. Aprender a ensinar para pensar, muito mais. Em educação, a mensagem é a mensagem; os meios e a tecnologia são importantes, mas os conteúdos são fundamentais."
"Ad multos annos", Wanda. Você é pérola de raro valor de tempos baratos, em que conquistar diplomas – a qualquer preço - passou a compor o rol de doenças da "modernidade brasileira".
Wanda Camargo é Engenheira Civil e Licenciada em Física. Especialista em Metodologia de Ensino e Mestre em Ciências Geodésicas. Lecionou Análise Numérica em cursos de graduação e pós-graduação na Universidade Federal do Paraná, onde exerceu também vários cargos de gestão universitária. Voltada ao estudo da melhoria do processo educacional, suas pesquisas estiveram relacionadas às diversas teorias da Aprendizagem. É autora de publicações técnicas na área de Análise Numérica, nas quais seu interesse pelas formas mais didáticas do ensino da matemática aplicada fundamenta a apresentação dos temas. Voltou à vida acadêmica na UniBrasil, da qual atualmente é Assessora da Mantenedora e coordena projetos culturais.
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