SINOPSE
PREFÁCIO
A LITERATURA E A VIDA - Isabel Furini
Neyd Montingelli publicou crônicas nas coletâneas da coleção Rumo, do Instituto Memória, e agradou ao público leitor com a excelente obra “Memórias de um caixa da Caixa”. Nesta oportunidade, a autora dá mais um passo na estrada literária e entra no mundo do conto mostrando que pode criar o seu próprio estilo, longe das modas literárias que chegam e passam.
Neyd escreve há anos e já participou de alguns concursos literários. O fato de ter alguns de seus contos entre os trabalhos ganhadores em vários concursos permitiu que sentisse confiança e decidisse publicar um livro de contos.
A autora nos leva pelo universo da ficção mostrando-nos acontecimentos da vida: os avanços, as dúvidas, os medos, a coragem, a vida familiar. O mundo infantil se enlaça vigorosamente com o mundo adulto. Como psicóloga, ela retrata comportamentos humanos.
Ariano Suassuna afirmou: “Não existe diferença entre a literatura e a vida. A literatura foi o caminho que eu encontrei para enfrentar essa bela tarefa de viver”. As histórias de “Nuvem com zíper” vão sensibilizar os leitores. São momentos especiais vivenciados pelos personagens. A menina e a nuvem, o encrenqueiro com seu radinho, a moça que caminha ao lado dos trilhos do trem, até um guarda-chuva se torna, de alguma maneira, o personagem de um conto. É o universo do cotidiano levado para o mundo da ficção. O leitor não vai achar textos metafóricos, mas textos que revelam um olhar penetrante, às vezes frio, sobre os acontecimentos. E, justamente, é nesse afastamento (quando não se aproxima emocionalmente dos personagens) que ela consegue dar o melhor tom para as suas histórias.
Charles Bukowski, no poema “Então queres ser um escritor?”, fala: “a menos que saia sem perguntar do teu coração, da tua cabeça, da tua boca, não o faças.” Esse é um bom conselho para os escritores, iniciantes ou não. O poema, o conto, a crônica e o romance ganham força quando o escritor tem algo a dizer, algo que está mexendo com ele, com seu imaginário, com suas emoções, com suas idéias.
Essa honestidade, essa explosão, considerada característica do escritor nos versos de Bukowski, extravasa em alguns dos contos de Neyd Montingelli. A sua linguagem é muita próxima da oralidade, mas tem força e dá um sabor especial às histórias. A autora abre um leque para mostrar o momento de vida de seres que vivem e lutam no teatro do cotidiano. Alguns contos conseguem cenários marcantes, quase fotografam locais com palavras, como em “Vou chamar meu pai”, no qual um fato é contado por uma criança. Ela começa falando do entorno da sua residência: “Moramos em uma casa onde tem umas árvores atrás, a casa de um tio do lado esquerdo e de uma vizinha do lado direito, mas são meio longe. Não tem outras casas perto. Tem uma rua na frente, depois um barranco e lá embaixo passa um pequeno córrego”.
Neyd já está preparando um novo livro. Parece que o escritor fica com um vazio difícil de ser preenchido quando termina um livro. É necessário iniciar outro. O trabalho é sempre difícil, porque escrever não é só libertar a alma dos fantasmas, é também tornar o texto estético. Por isso, o caminho do escritor é complexo, mas como dizia Lao Tsé: “Um caminho de 100 léguas começa com o primeiro passo”.
O livro “Nuvem com zíper” traz histórias que pairavam no imaginário de Neyd e que podem também fazer parte do imaginário dos leitores. Esta é a tarefa da literatura: a criação de universos paralelos. Uma tarefa que Neyd, como autodidata, realiza imprimindo o seu próprio estilo.
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SUMÁRIO
11
A rua de pedras
33
Nuvem com zíper
41
Guarda chuva bandido
65
Herói morto ou covarde vivo
71
Vou chamar meu pai
77
Cabrito surrado
83
Tio Chico sem batina
93
Talheres à mesa
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