SINOPSE
Às Vezes
Às vezes, por entre as grades do jardim onde se enroscam os galhos lilases da bougainville, observo o cruzamento da rua, um pedaço da praça, as casas vizinhas do outro lado. Tem sol bonito lá fora e algumas pessoas descem a rua tranquilas ou agitadas, falantes ou silenciosas, sozinhas ou em grupos. Algumas de máscara, outras não.
Às vezes, a chuva, por tanto tempo esperada, chega rápida e torrencial. Outras vezes vem mansa e se demora a noite inteira. Outras, ainda, se anuncia, o céu escurece no fim do dia, mas a chuva não chega, se desvia pelos céus e vai chorar em outras cidades.
Todos os dias ouvimos orquestras e shows de dança nos quintais. Além dos já conhecidos pardais, bem-te-vis e sabiás, têm aparecido artistas diferentes: contrabaixos, contraltos, arrulhos, gorjeios, novos tenores.
Tem pôr do sol, a noite vem bela, mas não devemos sair. É preciso temer a morte. Ela faz a ronda e o cerco pelas cidades. E quem a enfrenta vira estatística nos telejornais.
Às vezes, os números ruins viram rostos conhecidos. Ou amigos de conhecidos, ou parentes de amigos. E então sabemos que a maior tristeza é não poder se despedir dos que partem, nem abraçar os que ficam. Não se pode levar flores, consolo, abraço, lágrimas e oração.
Velamos de longe, rezamos de longe. E a realidade cruel fica parecendo mentira. Não vimos, não testemunhamos. Será que realmente aconteceu ou foi apenas um pesadelo?
Sabemos que há anjos nos hospitais que se disfarçam de gente, se vestem de branco e também usam máscaras. Eles não descansam, voam pelos corredores e se debruçam nos leitos. Eles salvam vidas e choram pelas perdidas.
Todos os dias quando acordo sei que pouca coisa vai mudar. A vida virou quase rotina, talvez chova ou faça sol, as notícias não são boas. Porém, quando ouço os gorjeios nos quintais e cá dentro uma criancinha começando a falar, sei que é a vida dizendo: espera, tem fé, confia. As coisas vão melhorar!
Curitiba, outubro de 2020
Em tempos de pandemia
A AUTORA
Elizabeth Inêz Espinosa nasceu em Clevelândia, sul do Paraná, residiu em Curitiba por mais de 40 anos, onde se casou, teve três filhos, fez duas graduações, Geologia e Direito. Trabalhou por 31 anos no Tribunal Regional do Trabalho da 9ª. Região, mas nunca deixou de engavetar escritos.
Publicou Edith, Caminhos e Caminhadas, 2007 e Anna e Silvia, 2023 (romances); À Flor da Pele, 2007 (poesias), Sensações, 2017 (crônicas) e participou das antologias: Vingança 2 (contos), Marcas na Areia (poesias), Escrevendo Crônicas (crônicas), Conto a Gotas (contos), Narrativas Novinhas em Folha e em Áudio (contos).
Mantém “engavetados” no computador, para publicação em breve, um livro de poesias, um de crônicas e uma novela.
------
SUMÁRIO
Início e o Fim do Caos 11
O Rio e a Barca 17
A Encomenda 20
Todo Dia Dez 27
Entre Avó e Neta 30
O Pôr do Sol 33
A Confidente 35
O Dia 37
Casa Vazia 39
Uma Noite em Amsterdam 41
Seu Teobaldo 46
O Irmão 49
A Noite 52
A Batalha 55
Fim do Expediente 57
Solidão a Dois 60
Herança Inesperada 62
Reencontro ao Fim do Dia 65
O Retorno 69
Doce Vingança 72
O Casarão da Minha Infância 80
A Moça da Casinha Branca 83
A Outra 88
|